quarta-feira, 13 de junho de 2012

Sem Parar, continuando sempre!

No início parece só mais um show. Um daqueles eventos que atraem jovens aos milhares, mas que terminam com a inevitável sensação de “déjà vu”. De mais do mesmo. No entanto, quem participa de um encontro da Força Jovem cedo é tomado pelo sentimento de que algo de novo, de provocador, de diferente está acontecendo naquele momento. Uma experiência de fazer parte de uma grande onda do bem. De integrar uma cadeia de gente que quer mudar o mundo e sabe que isso é possível. Se a proposta então é conter um mal social da dimensão do crack, não há como ficar insensível. E aí é só responder: “Não, não pare! Sim, continue!”, para você se sentir definitivamente tocado pela FORÇA JOVEM. Um dos responsáveis por essa “piração” do bem, Jean Madeira, mostra, até em entrevista, como é bom em mobilizar. E como mobilizar pode ser bom.
1 – Todos os números relativos à Força Jovem são grandiosos. Quais as suas perspectivas com relação ao futuro do movimento?
Jean Madeira – Realmente os números são impressionantes. O que desmente aquela velha tese sobre o desinteresse dos jovens. O jovem é atuante, sim. E participativo, desde que veja a possibilidade de obter resultados. Hoje temos 300 mil pessoas participando do movimento. Em oito anos, quatro de atuação efetiva, foram beneficiadas mais de 2 milhões de pessoas, nos nossos trabalhos de combate ao uso de drogas e ressocialização dos usuários. Nossa meta agora é estabelecer essa rede de jovens atuando como voluntários nos grandes eventos nacionais que se aproximam, como a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Capacidade para tanto já demonstramos. Hoje, o “Driblando o crack nas escolas” é uma das referências no enfrentamento à questão. Então, temos como meta manter o apelo, reforçar o número de participantes e ampliar essa rede de mobilização.
2 – Essa conscientização do jovem pode ser vista como uma atuação política. De que forma provocar esse interesse por uma atividade tão questionada como a política?
Jean Madeira – Simplesmente trabalhando o jovem não como massa de manobra, mas como o formador de opinião que ele é. Costumo dizer que trabalhamos com o jovem do ombro para cima. Com a cabeça dele, provocando-o, respeitando-o, escutando-o. Se você trabalha dessa forma a juventude, os resultados costumam ser mais do que positivos. Esse é o ideal da Força Jovem. Se tornar forte com o jovem, pelo jovem. E não usando o jovem.
3 – E qual é o seu segredo para ser um mobilizador da juventude?
Jean Madeira – Não existe segredo. Existem empenho e dedicação de inúmeros colaboradores que acabam contagiando outros recém-chegados como colaboradores, em uma rede de mobilização. Uma corrente do bem. Um viral de boas expectativas e de objetivos em favor da cidadania. Todos os dias, atendemos jovens que foram maltratados de alguma forma pela sociedade. Ou que não encontram canais para se expressar. Oferecemos esses canais. Temos ex-usuários de drogas trabalhando na interlocução com esses usuários. Eles conversam no mesmo tom, usam os mesmos símbolos. Isso facilita a comunicação. E comunicar é tornar comum, inclusive os objetivos.
4 – Seu trabalho acaba de ser reconhecido com a realização de sessão solene na Câmara dos Deputados. Como o senhor avalia essas homenagens?
Jean Madeira – Esse reconhecimento é uma prova de que querer é poder e poder é conseguir. Nossa mobilização mostrou que é possível bater asas no norte do País e provocar um furacão no sul. Já obtivemos esse reconhecimento via Câmara dos Vereadores de São Paulo, da Assembleia Legislativa do Estado e agora no Congresso Nacional. Só falta a ONU (risos). Brincadeiras à parte, isso é uma demonstração de que sozinho pode até se chegar mais rápido. Mas junto, se vai mais longe. Estamos trabalhando juntos nesse caminho e ele promete nos levar bem longe.
5 – O uso de novas tecnologias, como as redes sociais, tem se mostrado importante para esse trabalho?
Jean Madeira – Claro que sim. Hoje em dia não vejo o jovem tão ligado, por exemplo, na TV, como era pouco tempo atrás. Todos os jovens, pelo menos nos centros urbanos onde isso é possível, estão de alguma forma participando de redes sociais. Isso é claramente um fator favorecedor para divulgação de mensagens e troca de experiências. Observe que, ainda há pouco, eu estava me deslocando em São Paulo, preso na nossa triste rotina de engarrafamentos colossais. Pois enquanto eu demorava cerca de uma hora nesse deslocamento, recebi cerca de 50 e-mails, que pude responder. Mas, além da facilitação, as redes também são importantes porque extrapolam limites impostos por bandeiras. Hoje, os jovens que entram em contato conosco não estão ligados a determinadas classes sociais, grupos religiosos, ou ideológicos. Há só uma bandeira: a solidariedade.
6 – O sucesso de seu trabalho, como não poderia deixar de ser, acabou lhe dando uma projeção que resultou em um convite para exercer um mandato político. Não teme que possa haver críticas por conta disso?
Jean Madeira – De fato, sou pré-candidato a vereador, mas todos que conhecem a Força Jovem sabem que nunca trabalhei visando cargo político. Chances já houve e muitas. São 17 anos trabalhando em mobilização. Foi feito um convite pelo partido. E eu pensei: claro que posso agregar valor ao trabalho de mobilização dos jovens, podendo influenciar em votações e apresentar propostas e projetos. Esse é o objetivo. Nunca deixarei que essa experiência, se vier a se transformar em realidade, atrapalhe os trabalhos da Força Jovem. Só se for para somar. Nunca para dividir ou subtrair.
7 – O jovem precisa da política ou a política precisa mais do jovem?
Jean Madeira – O jovem precisa muito da política. O jovem precisa ser cada vez mais politizado. Acredito que foi a ausência dessa politização da juventude que provocou a permanência de determinados hábitos no mundo político. Essa participação deve ser feita de forma ordenada. Como diz o lema de nossa bandeira: Ordem e Progresso.
8 – Voltando à questão do combate às drogas. O Brasil está no caminho certo no enfretamento ao problema?
Jean Madeira – Eu particularmente parabenizo a presidente Dilma pelo programa “Crack, é possível vencer”. É importante ver o governo adotando uma posição e elegendo um dos mais graves problemas sociais e de saúde que ameaçam o País como prioridade. No entanto, lembramos que não basta a campanha publicitária. Outras ações devem vir ancorando o programa. O Brasil está apenas começando. Acho importante que essa campanha leve em consideração a experiência, por exemplo, da Força, nessa questão. Nós estamos colaborando. É só abrir a porta que a gente entra. E entra com experiência, com motivação, porque nós queremos acabar com o crack no Brasil E nós vamos conseguir.
9 – Ser 10 para o senhor é…
Jean Madeira – É ser jovem. É ser descolado. É ser formador de opinião. Mas ser 10 é principalmente a totalidade. E só é possível alcançar essa totalidade pensando no próximo. Por isso, ser 10 é pensar no próximo.
Por Paulo Gusmão
Foto: Douglas Gomes
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